Fui nascida e criada no bairro do Méier, que é um dos mais tradicionais e importantes bairros cariocas, estando localizado na Zona Norte do Rio de Janeiro. Com 18 anos me mudei para a Zona Sul, mas minha família continuou morando no Méier. Minha mãe mora inclusive na mesma casa há quase 40 anos.
O Méier apresenta duas aparências urbanas distintas a que os moradores chamam de lado de lá e lado de cá, divididos pela escadaria da Estação de trem do Méier.
As áreas próximas da rua Dias da Cruz e da estação ferroviária são mais agitadas, com comércio; as outras áreas são mais calmas com casas e vilas que já estão perdendo espaço para os espigões.
O Méier é habitado, na sua maioria, por famílias de classe média e é o décimo sétimo bairro carioca com maior IDH, de 0,931, sendo um dos mais valorizados da Zona Norte. E é no bairro que se localiza o primeiro shopping do Brasil, o Shopping do Méier, inaugurado em 1963.
Em 1954 o bairro ganhou o Imperator, na ocasião a maior sala de cinema da América Latina com 2.400 lugares. O bairro já possuiu quatro cinemas. O mais famoso deles foi o Imperator. Os outros são: Art Méier (na rua Silva Rabelo) e Bruni Méier (na rua Amaro Cavalcanti) e o Paratodos (na rua Arquias Cordeiro).
O Cinema Imperator nos seus áureos tempos. Inclusive assisti ao filme "Mad Max" (da foto abaixo)no Imperator. A rotina era a seguinte: ir ao Imperator assistir um filme e depois ir na Padaria Imperator comer pizza e tomar um sundae naqueles copos de vidro grandes.
Em 1991, o Imperator foi transformado em casa de espetáculos, mas encerrou suas atividades em 1995. E todos os demais cinemas do bairro também foram fechados ou transformados em igrejas protestantes.
Em 1991, o Imperator foi transformado em casa de espetáculos, mas encerrou suas atividades em 1995. E todos os demais cinemas do bairro também foram fechados ou transformados em igrejas protestantes.
O bairro é cortado pela Estrada de Ferro Central do Brasil e a história do Méier se confunde com a dos trens. O aniversário da sua estação ferroviária é utilizado como data de fundação do bairro: 13 de Maio de 1889.
Essa é uma imagem antiga da Escadaria que dá acesso aos dois lados do Méier e que passa por cima da Estação de trem do Méier.
Esta já é uma imagem atual da Estação do Méier e de sua escadaria. Pensando, talvez, em dar um conforto para os moradores colocaram esses tubos azuis para proteger da chuva, no entanto alteraram a peculiaridade da antiga Estação.
Outra imagem da escadaria que agora até tem escada rolante, mas que perdeu parte do antigo charme. Fico pensando onde estão as pessoas que defendem o patrimônio do Méier para permitir um acinte desses... Será que a Associação de Moradores não se indignou, ou, de fato, cochilou nesse momento, ou será que pensam que escadas rolantes podem trazer benefícios maiores que possam substituir a preservação de toda a história de vida deste bairro carioca?!
A memória é algo que está completamente arraigado com a vida de todos os moradores que tiveram sua história vivida ali. E por conta disso, não é apenas passado, e sim presente e futuro.
Esta é a Basílica do Sagrado Coração de Maria localizada no 'outro lado do méier', ou seja do lado de lá da estação de trem. A Basílica possui arquitetura mourisca. É é o único templo católico no país com essas características. Construída entre 1909 e 1929 pelo arquiteto espanhol Adolfo Morales de los Rios, o mesmo que projetou o prédio da Fiocruz.
Temos poucas Basílicas no Brasil - mais precisamente temos trinta basílicas no Brasil - na realidade só o Papa pode elevar uma igreja ao status de basílica. A Basílica de Aparecida do Norte é a mais famosa.
Essa é uma imagem do Jardim do Méier
O Coreto fica centralizado no Jardim do Méier. Ele é um patrimônio tombado pelo Inepac e ícone do Méier desde 1914.
Pensando nesse cochilo da população do Méier e da sua passividade frente ao Poder Público, lembrei de um outro caso que me deixou igualmente chateada. É que muitas coisas me indignam e na verdade sempre fui assim... quando tinha quinze anos fui síndica da vila de meus pais e fiz um pequeno jardim. Nele nasceu, trazido nas terras que comprei, um pé de amendoeira que cresceu e virou uma linda árvore.
Eu já não residia com meus pais, e um dia recebi um telefonema de minha mãe dizendo que estavam cortando a árvore por uma decisão do síndico junto aos moradores, inclusive com a participação de meu pai na reunião. Não pensei duas vezes, liguei para o órgão competente que na mesma semana multou o condomínio. Inclusive meu pai teve que participar do pagamento da multa.
5 comentários:
Quando eu era bem menina e passava as minhas férias na casa da minha tia no Lins, a gente andava até o Méier no sábado, passeando, passeando... Eu achava o máximo! Ruas grandes, muita gente. Tenho boas lembranças desse bairro! Também frequentei quando fui definitivamente pro Rio, eu ficava num condomínio numa rua à esquerda, no final da Dias da Cruz... já não me lembro o nome...
Também gravei minha 1a demo num estúdio no bairro.
Querida Lili,
Em todo esse texto sobre o Méier (no qual se percebe que o seu amor pelo bairro continua, mesmo não vivendo lá), me chamou a atenção o fechamento dos 4 cinemas. Fico indignado quando leio que um cinema foi fechado, principalmente para virar um templo religioso. E por falar em religião, a minha Canindé tem uma basílica, ainda quando eu era criança. Está, pois, entre as poucas existentes no país. Espero que você tenha passado um bom final de ano. Um beijo carinhoso.
Suburbano coração - Chico Buarque
A casa está bonita
A dona está demais
A última visita
Quanto tempo faz
Balançam os cabides
Lustres se acenderão
O amor vai pôr os pés
No conjugado coração
Será que o amor se sente em casa
Vai sentar no chão
Será que vai deixar cair
A brasa no tapete coração
Quando aumentar a fita
As línguas vão falar
Que a dona tem visita
E nunca vai casar
Se enroscam persianas
Louças se partirão
O amor está tocando
O suburbano coração
Será que o amor não tem programa
Ou ama com paixão
Mulher virando no sofá
Sofá virando cama coração
O amor já vai embora
Ou perde a condução
Será que não repara
A desarrumação
Que tanta cerimônia
Se a dona já não tem
Vergonha do seu coração
que bacana! não conheço nada do méier e foi legal saber um pouco da história. quase não vou lá. meus amigos que moram lá nunca convidam pra visitá-los.
Gostaria de esclarecer o seguinte: as bucólicas escadas ainda existem. Estão lá, na outra ponta da estação. Pouco antes da Dias da Cruz, do lado esquerdo, e quase em frente à Carolina Meier, do lado direito. As escadas rolantes estão no final da estação,na passarela que sai no Jardim do Meier. Embora facilitem as pessoas idosas, ficam muitas vezes sem funcionar por um bom tempo. Um vizinho, antigo morador, me contou que a passarela foi feito para facilitar o acesso ao hospital Salgado Filho. Não sei. Em 1990, quando mudei para o lado direito do Meier, ela já lá estava, com rampas dos dois lados, e as antigas escadas mais adiante. Espero que esse esclarecimento acalme a sua tristeza.
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