sexta-feira, 25 de julho de 2008

A obscena senhora D



Nas minhas idas e vindas do Rio para a Serra tenho lido um pouco sobre a Poeta, dramaturga e ficcionista, HILDA HILST. Na verdade estou lendo “Cadernos de Literatura brasileira” do Instituto Moreira Salles sobre HILDA HILST.

Hilda Hilst falava da morte e da finitude das coisas em sua poesia, mas isto em nada tirava de Hilda a irreverência que era uma marca sua. Contam que durante uma aula que ela participava como artista residente na Unicamp, Hilda falava para uma platéia de físicos e estudantes, no meio da exposição, notou que um físico presente caçoava de suas idéias, ao mesmo tempo em que insistia em coçar as virilhas. Lá pelas tantas, ele torpedeou: "Quer dizer que a senhora acredita realmente na imortalidade da alma?" E Hilda, rápida: "Eu acredito na imortalidade da minha alma, porque se o senhor continuar apenas rindo e coçando o saco, sequer constituirá uma alma."


Hilda Carregou durante toda a sua carreira a fama de escritora difícil e de poucos leitores, no entanto sua obra era inovadora. Ela teve a coragem de virar a mesa, romper com moralismos e mediocridades.

Desde 1966 até a sua morte, HILDA HILST morou na Casa do Sol, uma chácara próxima a Campinas-SP num sítio herdado da mãe, local onde viveu rodeada de 64 cães. Ali ela dedicou sua vida à criação literária.
Com o passar dos anos quem ia visitá-la em sua chácara, encontrava-a rodeada por pilhas de livros. Eram leituras relacionadas à física, à filosofia e à matemática, com as quais ela procurava refletir sobre questões como a imortalidade da alma, "do ponto de vista científico, não apenas metafísico", como ela mesma dizia. Hilda lia muito a obra do físico Stephane Lupasco, que defende a idéia de que a alma é feita de matéria quântica. Sempre bem-humorada, dizia que estava estudando para não chegar idiota em Marduk, planeta de outra dimensão onde já estariam Einstein, Paracelso e Julio Verne.

“... e tudo é tão redondo e completo na hora da morte, pois aí sim é que estás completamente acabado, inteirinho tu mesmo, nítido nítido, preciso, exato como um magnífico teorema..."

Pra deixar de ser levada tão a sério como escritora, e quem sabe poder ser mais lida, Hilda publicou uma trilogia pornográfica, iniciada com "O Caderno Rosa de Lory Lambi". Mais uma vez era a Hilda irreverente que quebrava conceitos. Certo é que esta publicação chamou a atenção de novo para seu trabalho e ainda teve, posteriormente, uma versão para Teatro dirigida pela Beth coelho. Eu tenho o livro, mas não vi a peça.

Hoje sua chácara, Casa do Sol, é um centro de estudos psíquicos, filosóficos e científicos, que promove a integração entre diversas áreas do conhecimento.
Hilda ficou ressentida e deixava claro seu desagrado em não ser reconhecida em mais de 50 anos de atividade. “Me sinto uma tábua etrusca”, queixava-se a autora de A obscena senhora D (1982), apelidada pelo poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade de Estrela de Aldebarã. Hilda Hilst teve a obra completa reeditada a partir de 2002, mas continuava mais comentada que lida.

Vale ler também as cartas de Hilda Hilst e Caio Fernando Abreu dois autores brasileiros contemporâneos maravilhosos. Eu já li o livro de cartas do Caio F. como ele gostava de assinar parodiando a Ana C. a escritora Ana Cristina César que é outra que gosto muitíssimo.

4 comentários:

Francisco Sobreira disse...

Lili,
Não conheço a obra de Hilda. Li alguns poemas esparsos. Mas pelo que li de alguns críticos, é uma escritora importante. E se você gosta, é um reforço a essas opiniões. Abraço afetuoso.

railer disse...

lili como sempre nos atualizando com coisas belas e que não poderiam passar despercebidas pelos mais desavisados.
gostei de conhecer a obra de hilda, que inclusive tem o mesmo nome de minha avó.
beijos

Anônimo disse...

Já li as cartas do Caio fernando e algumas para a Hilda. Gosto muito dele mas não conheço nada dela. Quem sabe agora eu me aventure!

Maria Rita Bevilaqua

Anônimo disse...

Já li as cartas do Caio fernando e algumas para a Hilda. Gosto muito dele mas não conheço nada dela. Quem sabe agora eu me aventure!

Maria Rita Bevilaqua